#12 por que "largar tudo" é a maior mentira que já te contaram
faltam 70 dias pra que eu, aos olhos dos outros, "largue tudo". de novo.
Quem mais tá com a sensação de que o ano já acabou? Parece que chega o mês de novembro e junto com ele a jogada de toalha, as promessas de “ano que vem vai ser diferente” e as metas surreais e desonestas que a gente estabelece pra si mesmo, mas se frusta no final do ano seguinte - calma, a newsletter de hoje não é uma reclamação e nem anti-planejamento - muito pelo contrário.
Eu acredito muito no poder dos sonhos - quando eles são colocados no calendário. Quando a gente se compromete a tirar esses sonhos do campo das ideias, coloca no papel e define ações pra fazer aquilo acontecer.
Daqui 70 dias eu começo o meu segundo mochilão. Dessa vez, eu embarco com muito menos dinheiro guardado do que antes, com fontes de renda que (ainda) não são previsíveis o suficiente pra viver de Airbnb em Airbnb, e com planos ainda mais ambiciosos. E, por incrível que pareça, eu me sinto mais confiante do que quando eu tinha mais “segurança” naquele primeiro mochilão.
Pros outros, pode parecer que eu estou “largando tudo”. Como se eu estivesse trocando algo super estável e apostando em algo sem a mínima ideia se vai dar certo. Mas eu passei o último ano estudando formas de manter viajando, construindo um negócio digital do zero, me preparando financeira e emocionalmente. Não foi do nada, e muito menos uma aposta.
Existe um estereótipo que todos os viajantes são pessoas impulsivas, sem planejamento nenhum e “rebeldes”. Mas acredite: a maioria das pessoas que leva a viagem como um estilo de vida tem uma consciência absurda das próprias decisões e, apesar de não terem a resposta imediata de como vão conseguir algo, elas se preparam minimamente e sabem que vão descobrir ao longo do caminho. Elas sabem o porquê estão ali - coisa que vivendo no automático da vida, a gente se esquece.
Eu de verdade detesto a frase “largar tudo”. Afinal, o que eu estou largando?
Estabilidade: receber o mesmo valor na conta todo mês não necessariamente torna a sua vida estável - foi só viajando que eu finalmente melhorei minha organização financeira e hoje consigo me adaptar a diferentes cenários, gastar sempre menos do que ganho e investir pro meu futuro (sim, viajantes guardam dinheiro - e às vezes até mais do que alguém que vive uma vida “padrão” e não sabe quanto entra e sai todo mês). Sem falar que um emprego não garante estabilidade vitalícia, né?
Família e amigos: estar próxima fisicamente de quem eu amo, mas estar infeliz, não faz sentido pra mim - o preço que se paga por estar distante da nossa rede de apoio é realmente muito alto, mas nem se compara ao arrependimento e tristeza de se conformar com uma vida que você sabe que não te pertence agora. Hoje, pra mim, ficar e não seguir o meu sonho só me deixaria amarga e infeliz - preocupando ainda mais a minha família. A saudade é grande, mas ver quem a gente ama sofrer é pior.
O “timing” da minha carreira: essa aqui é a que mais me incomoda e mais preocupa os jovens adultos que me leem. Quando embarquei pro meu mochilão, eu tinha feito um estágio na vida. Um. E aí, como que fica pra construir uma carreira quando volta? Spoiler: foi justamente por ter tomado essa decisão no começo da minha vida profissional que eu pude perceber as infinitas possibilidades de trabalho e de vida que eu gostaria de seguir. Provavelmente, eu não estaria escrevendo esse texto hoje se o medo de “atrasar” minha carreira tivesse me travado.
Ainda existem mil e uma coisas que as pessoas veem que estamos “largando” ao decidir tomar um rumo diferente na vida - desde viajar o mundo até mudar de cidade, terminar um relacionamento, começar uma nova profissão. E eu sei que, pra mim, com 22 anos, sem nenhum bem material no meu nome, filhos e pets pra criar, família pra bancar, esse processo se torna muito mais simples. Por isso eu incentivo tanto que mais jovens aproveitem essa oportunidade de começar a viajar e experimentar o mundo.
Mas ainda assim é desafiador. A sociedade coloca uma pressão absurda no jovem ditando que ele tem que seguir o caminho X porque é o mais seguro, escolher a pós graduação Y pra aumentar o salário em Z% e comprar aquela casa financiada em 180 parcelas. E se nem todos nós quisermos seguir esse caminho? Por que isso é visto como irresponsabilidade?
Irresponsabilidade pra mim é não se questionar das próprias escolhas de vida e só seguir o que te mandam fazer. É se comprometer com uma vida que não faz sentido pro que você tá buscando.
Essa música me traz paz sempre que me questiono se tô no caminho certo:
“Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído, espalhar bem-querer”
Só porque não é o óbvio, não quer dizer que é loucura. Muito menos largar tudo.
Faltam 70 dias e eu nunca estive mais segura e feliz da minha decisão. Posso não ter todas as respostas, mas eu tenho os motivos, os sonhos e um plano. Isso pra mim, já basta.
Já que estamos reflexivas, queria te perguntar uma coisa: você também tem vontade de cair no mundo? O que tem te impedido? Queria muito te ouvir - pode deixar um comentário aqui ou responder direto no e-mail.
Um beijo e até a semana que vem,
Ju
eu tenho vontade de VOLTAR a cair no mundo e estou como você trilhando meu caminho. sabe o que refleti? Gap year ou Gap months estão a ser exactamente estes que preciso parar para voltar a estruturar. Ir nunca fui Gap. Ficar na verdade, também não levo nesse sentido literal mas meu sentimento de Gap está ao estar parada e não no movimento.
Que lindo e super motivador ler que dessa vez que você têm menos respostas e seguranças é quando mais se sente feliz e no caminho.
Só quem salta entenderá isso. Queria que mais mulher o sentissem.
Esse texto me arrancou um sorriso sincero porque é exatamente tudo o que penso pra minha vida.
Não vejo a hora de também cair nesse mundo sem data pra voltar e com um trabalho que me forneça liberdade geográfica e flexibilidade de tempo. É muito angustiante e sofrido viver essa espera de montar tijolo por tijolo, mas eu sei que vai dar certo como está dando certo pra você <3